sábado, 19 de junho de 2010

"Olhos nos olhos, quero ver o que você diz"



"Sabe, se as pessoas hoje em dia têm mais vergonha de se olhar do que se chupar, então a sensualidade está toda nos olhos".




Li essa frase no CCE há um tempinho já. Não sentei para escrever sobre ela, mas também não tirei isso da cabeça. Tenho uma admiração profunda por olhares. Sei que alguns estão adaptados com ‘disfarçadores de falsas intenções e mentiras’, mas muitos deles ainda são puros e ingênuos como quando no primeiro piscar-e-reconhecer-o-mundo de uma criança. E é nessa pureza e ingenuidade que gosto de me cegar sem pressa ou receio da escuridão quase assustadora que grampeia as pálpebras quando a luz se faz intensa. Sei que golpes de sensibilidade não são assim tão corriqueiros na vida que levamos (pelo menos não na minha!). Acabamos com a visão de certa forma bloqueada. Mas quem é que nunca se surpreendeu suspirando ao notar um brilho diferente no olho do outro? ... Que seja ao namorar um sonho de consumo pela vitrine; ao reencontrar os abraços de um amigo que estava distante ou ao dar de cara com aquele doce feito pela mãe dando sopa de madrugada, pós balada, na geladeira. Que seja com alguma cena de cinema, ou refrão de música preferida, ou trecho de livro; ou camisa esquecida achada no fundo da gaveta. Que seja por cumplicidade, ou por vontade; que seja pelo motivo que for.




Acontece que ontem eu resolvi deixar a preguiça soterrada embaixo do meu edredom e cedi aos choramingos de duas amigas loucas e recém sol-tei-ríiiiiiiiiis-si-mas (como elas deram para se nomear) e sair de casa. Há mil anos que não dava as caras numa festa em república. Me senti a tiazona da galera, com “bixos” de dezessete, dezoito anos (e outros marmanjos não tão babies assim) se achando os desbravadores do mundo (que pode acabar a qualquer momento e que precisa ser exaurido inteiro agora com toda intensidade e irresponsabilidade que isso possa exigir). Nunca tive essa fase e não entendo muito bem com ela funciona. Independente dos absurdos que vi, aproveitei bastante e consegui me divertir. Valeu abandonar o “Ed” por uma noite...




E o que uma loucura de universitários tem a ver com tudo isso que eu estava falando sobre olhares?




Absolutamente nada, né? Ontem eu percebi que enxergar alguém do seu lado só tem sentido se for para reconhecer os atributos que se está buscando na noite, o que é mais eficiente com as lentes do tato, pelo que parece. Conversar para quê? Não interessa relevar timidez disfarçada em cabeça baixa ou avermelhar de bochechas. Os bate-papos mais divertidos são os que acontecem entre a boca e a pele. Por isso, os sem pudores são os preferidos – os curto e grossos, como se diz. Com eles, não há tempo perdido em blá, blá, blá, cujo único interesse é um sim ou um não. Rápido, direto e sem enrolação. Sim? Beleza. Não? Alvo B. Nada é problema porque há sempre alguém na mesma fúria, na mesma urgência.




Com a mesma rapidez com que se atracam, se desembolam.




Amanhã também será assim. No final de semana. No próximo mês. Baladas e baladas, enfim. Cheios de nomes sendo colecionados em listinhas e completamente virgens de emoção.

"Olhe nos meus olhos e diga o que você vê quando eles vêem que você me vê... Olho nos seus olhos e o que eu posso ler: que eles ficam melhores quando eles me lêem!"

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