sexta-feira, 3 de julho de 2009

O passado me visitou

"Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio de uma praça. Então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa, que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada, só olhando e pensando - Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando". Caio Fernando Abreu.
E relendo esse trecho do Caio F. Abreu, que tinha anotado em um lugar qualquer, parei para pensar nos inúmeros "de vez em quando"s em que as pessoas me doem... Aliás, ultimamente, nem tem sido tão de vez em quando assim... a dor do reencontro me tem sido bem freqüente. As linhas abaixo, por exemplo, foram escritas quando um passado me visitou em 31 de maio desse ano.
... E passamos tempos acreditando que as coisas deixaram de ter sentido e que essa falta de sentido já não importa. Que superamos... Porém, um dia, abrimos a porta e percebemos que ainda damos a mesma importância para aquele choro que não conseguimos segurar, para aquela indignação que nasceu junto com o não, gritado, para tudo que havíamos pensado construir, e que se desmontou feito castelo na praia. Você não pede para encontrar respostas, mas as perguntas vêm bater na sua casa. Você nem havia se preparado. Estava de pijamas, sonolento, cara de ressaca. E o passado entra. Torna-se tão presente quanto cada passo, torna-se tão verdadeiro quanto o ar que te invade, mesmo quando você tenta espirrar cada resquício do que poderia ter sido e que não foi. E uma chuva de por quês e por quais motivos e por quais razões cai sobre a sala, inundando o tapete com questionamentos que não temos como varrer, como empurrar para baixo. E você disfarça, corre para o quarto, liga o som... Contudo, o silêncio te acomete, não importa o tamanho da vontade que tenha de gritar. E você se desespera. Repete mil vezes que nada mais importa. Só que a importância que julgou perdida cresce, volta, se revolta. E, novamente, a porta se abre. A tempestade vai embora. O ar fica limpo. Entretanto, o coração permanece acordado. As lembranças voltam a machucar... E palavras soltas no ar são passarinhos misteriosos, nunca se sabe quando ou onde vão pousar...

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