sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sobre a minha falta de sorte

Sei que hoje, véspera do dia dos namorados, é esperado que eu escreva sobre o vazio que sinto por não ter ao meu lado alguém especial para compartilhar a data comigo. Mas, além de já ter falado sobre isso em tantas outras noites solitárias, penso também que existem buracos muito mais fundos com os quais preciso me preocupar antes disso.

E, por falar em vazio, estava eu procurando um lugar que assim estivesse no ônibus ontem. Detesto ônibus!! Empurra-empurra. Mochilada. Pisada no pé. Falação. Às sete da matina ainda??!? ... Haja paciência! Só subi porque estava atrasada e não chegaria a tempo de outro jeito.

Impressionante o mau humor matinal da maioria das pessoas! Comecei a observar...: uns sequer abriam os olhos, vampiros lançados sem dó à luz do sol. Outros puxavam papo com o camarada ao lado como uma forma de amenizar os martírios do percurso. O rímel da noite passada manchando o rosto da menina exalava recordações. A roupa amassada denunciava que o rapaz havia dormido fora de casa. Listas de exercícios correndo de mão em mão, na tentativa de salvar uns pontinhos na prova, aos quarenta e cinco do segundo tempo. Moças bem vestidas chorando as pitangas sobre o patrão, carrasco muquirana. Um japinha acanhado balançava a cabeça ao som do seu ipod, alheio aos pedidos de “um passo para frente, por favor” do cobrador. Se vasculhasse bem, era possível perceber o sorriso da senhorinha do primeiro assento se alargar timidamente, toda vez que alguém subia – único sinal de humanidade tentando aquecer as primeiras horas de uma manhã extremamente fria.

Eu, ali, perdida naquela bagunça que sacudia em grupo aos desejos de cada rua, tentava não me render à vontade estúpida de gritar para exigir silêncio. Eu precisava sonhar e aquela mistura de sons e imagens e cheiros e texturas de tecidos e diferentes nós de cachecóis não me davam chance. Eu suspirava com a possibilidade de ver e estar com Rubem Alves, mas era tanta realidade a minha volta, que meus pensamentos não tinham espaço para se soltarem e chegarem em Ribeirão. Sorte que em pouco mais de quinze minutos, eu já podia respirar sozinha em metros e metros quadrados de ar puro só para mim! Que alívio! Alívio relâmpago, mas alívio. Logo eu cheguei à porta do trabalho e a desordem voltou a me atormentar.

Faz. Analisa. Pensa. Escreve. Raciocina. Pergunta. Almoça. Corre. Repete. Repensa. Começa tudo de novo. Retorna. Voa (Aah! Se eu pudesse!...). O relógio parece estar o tempo todo zombando da minha cara, por estar sempre adiantado em relação a mim. Penso que esse instrumento ingrato é o detentor de uma pá gigante e que é ele quem cava esses buracos que tenho que saltar a toda hora na vida. Resultado disso tudo? Não fui capaz de tapar as ‘crateras’ que devia ter tapado ontem e, por isso, nada de Rubem Alves, nem de Fabrício Carpinejar, nem de autógrafo em livro, nem de coração leve, nem de transpiração de sentimentos bons e poesia hoje. E o que é pior? Advinha!?! O cansaço me fez perder a hora de novo... e tive que gastar mais $2,30$ para embarcar na lotação das bizarrices matinais outra vez. Aja azar! hahah
>>>>> Bem, para quem tem tiver mais sorte que eu e puder ir, ainda tem muita coisa boa até dia 20: http://www.feiradolivroribeirao.com.br/2010/inicial.shtml

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