Quando vou aprender a querer?

Escrevi isso há tempos... nem sei a data... Mas como ando em fase de questionar meus valores, rever rotas já traçadas e planejar novos caminhos, penso que a reflexão seja relevante.

"Somos vagalumes a voar perdidos" diz a letra d'O Teatro Mágico. Já ouviram? Se não, não percam mais tempo! Estou aqui ouvindo agora. Ouço, mastigo cada palavra ouvida, às vezes engulo, às vezes resolvo denteá-las mais um pouco, às vezes devolvo tudo. Obrigada, não é disso que preciso para me alimentar.
Se pararmos para pensar, isso é o que deveria acontecer com tudo que vemos, ouvimos, presenciamos. Somos meros animais distanciados dos outros meros animais porque temos consciência e discernimento, não é isso que nos dizem? Somos seres críticos, questionadores. Não nos reduzimos a simples seguidores de instinto, não é verdade? Não! Definitivamente não é verdade! Pelo menos, não é a verdade que vejo por aí todos os dias. Consciência? Discernimento? Senso crítico? Questionamento? ... Artigos de luxo no meio em que vivo. Assim sendo, fica corriqueiro presenciar as coisas serem empurradas como absolutas, engolidas como absolutas e repassadas como absolutas, num absolutismo sem nexo e sem fim. Não gosto de ser desse jeito. Prefiro ser tachada de chata, a aceitar uma idéia que não me serve. Por isso, penso e repenso mil vezes antes de tomar alguma coisa como pertencente de mim.
"A gente precisa aprender a saber querer". Li isso e não consegui mais tirar da cabeça. Pensei. Repensei. Mastiguei. E percebi que eu nem sei o que quer dizer ‘saber querer’. Então, como saberei querer ‘aprender a saber querer’?
Dormi com a pulga atrás da orelha. Acordei com ela grávida de zilhões de pulguinhas. No momento, tenho a sensação de ter a cabeça povoada por esses seres saltitantes, que a cada pulo, me lançam um novo desafio. Será que ‘saber querer’ é ter, além do desejo, a dimensão do bem e do mal que o que é desejado representa? Será que ‘saber querer’ é entender que nem sempre o que dizemos querer é o que queremos de verdade? Será que ‘saber querer’ é ter a consciência de que mesmo o que queremos de verdade pode ser símbolo de sacrifício? Será que ‘saber querer’ é perceber que a grande maioria das pessoas não sabe querer e que, por isso, não pode te ensinar a fazê-lo? Será que ‘saber querer’ é uma coisa tão mais leve que essas indagações e que dispensa essas dúvidas todas? Não sei responder...

“Quem quer nunca há de poder, porque se perde em querer.”

Fernando Pessoa