Ela havia saído sem pretensões. Ele sempre farejava caças. Talvez, despretensiosa que estava, ela exalava um cheiro de presa fácil. Foi irresistível se aproximar e tentar flertar com ela. E assim trocaram as primeiras palavras e impressões. Ela observava diferenças. Ele vomitava semelhanças. Cada um com seu jeito de vislumbrar um encaixe, mas sem que o contato precisasse de fato ocorrer. Desse modo se despediram, sem toques nem gostos trocados em seus lábios. Apenas o grito de um número e a sensação de uma noite divertida, dessas que nos arrancam as melhores gargalhadas e nos trazem suspiros de alento e de esperança de que o inesperado pode mesmo render sempre boas recordações.
Engraçado seria se ela tivesse ouvido a música do Skank*** na volta para casa. Porém, ela só iria lembrar da similitude do contexto bem mais tarde...
O fato é que ele guardou os oito números gritados e ligou dias depois. Ela estranhou. Riu, como de costume. Desconfiada que era, procurou defeitos. Só achou o sotaque. Ele desligou com a promessa de que ligaria de novo. E ligou. Mais uma. Duas. Três vezes. Combinaram de se encontrar.
Amigos escudeiros a tiracolo. Conversas sérias misturadas com tiradas sarcásticas, todas embebidas em muito álcool e pouca música (ela amava música!). Ele apenas rock. Lá pelas tantas os guarda-costas resolveram que queriam dormir. Ele disse que queria que ela ficasse. Ela queria ficar. E seguiram noite a fora, sem seus pares originais. Caçador e caça brincando de disfarçar vontades e intenções pelas ruas da cidade. Despediram-se na entrada do prédio dela, horas depois. Ela dormiu leve. Ele dirigiu até sua casa com um ar de vitória nos olhos e um meio riso irônico num dos cantos da boca. Missão cumprida? Quem sabe... Mas seria bom garantir.
Operação 2: confirmar conquista – ele pensou. Perdeu alguns quinze minutos durante a semana que se seguiu fingindo cortejá-la. Inventou qualidades que não via nela. Pretendeu parecer mais responsável do que na verdade era, tentando impressioná-la. Mesmo não acreditando em nada, ela resolveu aceitar o convite para sair, mais uma vez. Sexta à noite. Sozinha em casa. Dia do cão terminando. Ela precisava se distrair...
Só que a distração foi um pouco divergente daquela que ela esperava. Teve que contentar-se em se distrair com os ponteiros do relógio, o aparelho tocando pela milésima vez a mesma música, a repetição do seriado na TV. Ele não apareceu, nem ligou para avisar, muito menos para contestar a mensagem debochada que ela mandou no celular dele. Ela dormiu pensando no tamanho da sua ingenuidade. Ele, provavelmente, encontrou sua próxima vítima.
***Formato Mínimo***
“Começou de súbito
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima
Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo
Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos, gozaram rápido
Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida
O medo redigiu-se ínfimo
E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela, o súdito
Desenhou-se a história trágica
Ele, enfim, dormiu apático
Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo, a vítima
Fugiu dali tão rápido
Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico
Para ele, uma transa típica
O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão, a rubrica”
***Formato Mínimo***
“Começou de súbito
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima
Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo
Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos, gozaram rápido
Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida
O medo redigiu-se ínfimo
E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela, o súdito
Desenhou-se a história trágica
Ele, enfim, dormiu apático
Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo, a vítima
Fugiu dali tão rápido
Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico
Para ele, uma transa típica
O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão, a rubrica”
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