sábado, 10 de abril de 2010

Sobre gostos nem tão gastronômicos assim...


Enquanto tomo um capuccino, com o intuito de substituir o gosto estranho impregnado na língua por algo mais doce, cheirando à canela, me vem à mente uns versos do Renato Russo que há muito não ouço “Aquele gosto amargo do teu corpo Ficou na minha boca por mais tempo De amargo e então salgado ficou doce Assim que o teu cheiro forte e lento fez casa nos meus braços E ainda leve e forte e cego e tenso fez saber que ainda era muito e muito pouco...”.
Quantos gostos tenho tatuados em minha pele? Quantos cheiros trago agarrados aos meus sentidos? Quantas digitais marcam meu corpo e demarcam os caminhos que já foram percorridos em mim?
É estranho pensar que posso não passar de um desses carrinhos de supermercado, que vai se enchendo de prateleira em prateleira com os lançamentos do momento. Um produto bacana aqui, um super útil ali, outros para encher o vazio de não se ter o que levar, outros imprescindíveis, tantos questionáveis.
Quando se começa a buscar por algo da memória, no entanto, percebe-se que tradição não tem lugar no mundo das novidades. Certamente, o que se procura já foi substituído por algo muito mais eficiente, ou muito mais atraente, ou muito mais barato, mas sempre com “satisfação garantida”. Não podemos dar valor ao de sempre, às dicas de nossas avós nem aos hábitos que transitam de pais para filhos, porque temos que substituir os valores que “saíram de linha” por outros reluzindo inovação. Satisfeitos ou não, é o que se tem para levar: ou o novo, ou nada.
É claro que não podemos viver do passado. Olhar adiante é o que faz o mundo progredir. Mas não quero me afogar em meio às embalagens suntuosas que trago para casa! Quero bem mais que o descartável. Quero que muitos cheiros e gostos e marcas permaneçam em minha vida, exalando um ar de estabilidade e segurança ao meu redor. Quero perceber que os artigos do antiquário sentimental que venho colecionando em minha mente não são peças de um museu e que não se encaixam na realidade atual. Eu preciso saber de tudo que passou por mim para saber quem eu sou e por onde ainda quero passar. Não posso descamar meu passado, sair da minha casca ou procurar um novo revestimento se eu quiser continuar sendo eu mesma.
A xícara agora está vazia. O gosto de canela vai aos poucos se dissipando e, logo logo, vai ser suprimido pelo gosto de menta da pasta de dentes... Sigo assim... Vou trocando os sabores, mas guardando a sensação que cada um deles causa em mim.

Um comentário:

Expressivas Impressões disse...

Primeiro a gente sempre compra a ideia. A ideia do principe encantado. Depois, se acomoda com o que está mais a mão. Um dia vence o prazo de validade e começa a dar azia. Como quem cansa de viver no supermercado, o carrinho de compras não quer todos, mas um único produto. Por segurança, recorre aos clássicos - que nunca saem de moda - e podem durar muito mais que um verão. A segurança de uma marca conhecida como o h-OMO dupla ação, garante à princesa que a roupa suja vai ser bem lavada nesse relacionamento, a ponto dele estar surrado com o tempo mas ainda mais confortável e com um cheirinho de novo em folha todos os dias.